Kant e o iluminismo. O Brasil na contra-mão da história
Immanuel Kant
De: LUIZ FLÁVIO GOMES*
Kant (no seu artigo de 1784: “Resposta à pergunta: que é o Iluminismo – a Ilustração -? Was ist Aufklarung?) atribuía ao próprio homem a “culpa” pela sua não emancipação (pela sua menoridade).
A “culpa”, no entanto, pressupõe alguém com capacidade de autodeterminação (livre). Não era essa a situação da maioria da população brasileira (segregada, separada, discriminada), a quem se negava a autonomia de pensamento, a capacidade de autodeterminação.
Desde a fundação do nosso país, “cada um já sabe o seu lugar (ou melhor: cada qual busca sempre estar no lugar social adequado), o que significa que o princípio da hierarquia é sempre aplicado, pois o maior temor social no Brasil é o de estar fora de luga, estar deslocado” (DaMatta, Carnavais, malandros e heróis).
No ocidente moderno (destacando-se, nesse ponto, os Estados Unidos, onde vigora a igualdade civil), dizia Dumont (citado por DaMatta, Carnavais, malandros e heróis), “não somente os cidadãos são livres e iguais perante a lei, mas ocorre uma transição, pelo menos na mentalidade popular, do princípio moral da igualdade à crença na identidade básica de todos os homens, pois eles não podem mais ser tomados como instâncias de uma cultura, uma sociedade ou um grupo social, mas como indivíduos existindo em si e por si”. A maior parte da população brasileira (a discriminada), desde o momento da construção do Estado, não era livre nem tampouco era tratada de forma igual na lei.
Nascemos sob a égide da discriminação étnica, ou seja, na contra-mão da história (em relação às camadas inferiores), visto que em 1822 o mundo civilizado já estava impregnado dos ideais iluministas, que significa (antes de tudo) o abandono definitivo da menoridade do ser humano (desde que esse ser humano ouse pensar, como dizia Kant), que passa a existir (e pensar) por si e para si. Essa sua emancipação decorreu da sua valentia, da sua ousadia, da sua determinação.
O ser humano, já no final do século XVIII, foi concebido para pensar por si mesmo, livrando-se de todos os seus tutores ou conselheiros, ou seja, dos poderes instituídos (divinos, reais etc.). É aí que, historicamente, começa a liberdade do ser humano, que poderia progressivamente universalizar a “época ilustrada”. Siga-me. Compartilhe esse texto. Manifeste. Dê sua opinião.